Quando pequena eu tinha um gato, o Manchinha. Esse não era o nome que eu queria, mas em um sorteio bem injusto entre as opções dos meus irmãos mais velhos ficou decidido, Manchinha. Eu o amava, pena que a recíproca não era verdadeira. Eu o abraçava e beijava e ele sempre me arranhava e fugia. Também tinha uma mania feia de destruir os vasos de flores da minha mãe. Ela o detestava, quase tanto quanto ele me detestava. A vida tem dessas coisas. Eis que um dia, ele sumiu. Não sei se por culpa do ódio da minha mãe ou por culpa do ódio que ele sentia por mim. Só sei que no meu choro desesperado pela perda, minha mãe disse:
-Ô Bebê, você não vê que ele fugiu com a primavera? Todos namoram e constroem família na primavera e ele foi construir a dele!
Até hoje eu não sei se era mesmo primavera. Mas sei que parei de chorar. Eu sempre soube o que significa a primavera. Até hoje continuo sabendo. Queria que todos soubessem.
Tenho certeza que o Manchinha te amava da maneira dele, se nós humanos as vezes temos formas estranhas de demonstrar o que sentimos, imagina os gatos...
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